Um dia, mais precisamente, a 20 de março de
2035…
- Pai, quando eu for grande, vou ser caçador
de dragões!
-Ai, é?- perguntou Daniel, divertido com a
exclamação do filho Filipe.
-O Guilherme contou-me que só os caçadores de
dragões é que têm futuro.
-Precisamos de te treinar, então. De manhã
iremos à procura de dragões, porque eles estão a dormir agora.
Daniel deu um beijinho de boa noite ao filho,
dirigindo-se, então, para a cama da filha Madalena que estava muito pensativa.
-Em que é que estás a pensar, filhota?
Madalena permaneceu em silêncio durante mais
alguns segundos. Por fim, olhou para o pai com um ar muito sério.
-Como é que tu e a mãe se conheceram?
Os olhos de Daniel brilharam: esperara por
aquela pergunta durante muito tempo. Filipe sentou-se na cama, também
entusiasmado pela história que o pai estava prestes a contar.
-Bem, tudo começou há quinze anos atrás, em
março de 2020…
Daniel lembrava-se desse dia como se fosse
ontem:
Acabara de voltar da escola, numa tarde
chuvosa, quando a mãe lhe deu a notícia de que não iria lá voltar. Um vírus
estava a propagar-se mais depressa do que se esperava e aquela medida fora
tomada por precaução. Daniel alegrou-se, pois o medo que tinha do vírus era
maior do que as saudades que iria sentir da escola: todos os dias Daniel era
gozado e a única amiga que tinha era a senhora da cantina. Para além disso,
gostava de ficar em casa e teria mais tempo para estudar.
Nos dias que se seguiram, Daniel e a sua
família respeitaram todas as medidas impostas pelo governo, mas o mesmo não se
podia dizer dos seus vizinhos do lado, os Pereira. Nesta casa não havia
preocupação com a situação que se estava a viver e o suposto isolamento era
apenas uma desculpa para esta família entrar em modo férias.
Um dia, Daniel, ao ir despejar o lixo,
encontrou Teresa Pereira e as suas amigas que atravessavam a rua naquele
instante. Estas vinham desprotegidas, o que preocupou Daniel.
-Eu tenho algumas máscaras a mais em casa, se
quiserem…
-Máscaras são para meninos como tu que se
querem esconder. Isto não passa de uma mera gripe.
Daniel corou e baixou a cabeça.
Revirando os olhos, Teresa e as amigas continuaram
a descer a rua, rindo-se dele.
-Idiota.- murmurou Teresa.
Nas semanas que se seguiram, não houve sinal
de Teresa. Daniel não podia dizer que sentia saudades, mas estranhava a sua
ausência.
Um dia, estava ele a brincar no seu quintal
com o seu cão Freddie, quando ouviu uma voz a chamá-lo. Aquela voz parecia-lhe
familiar. Seria Teresa? Aproximou-se da cerca. Do outro lado encontrava-se
Teresa de máscara.
-O que se passa?- perguntou Daniel,
preocupado. – Tu, de máscara?
-Não te aproximes muito da rede!
-Porquê?
-Tinhas razão! Isto não é apenas uma
gripezita. É muito mais do que isso! O meu pai está no hospital.
Sem hesitar, Daniel recua.
-Não te vás embora, por favor. Já me custa
não poder estar com as minhas amigas, quanto mais ter de ficar aqui sozinha.
-Então, eu sou o teu plano B, é isso?- Daniel
estava receoso. A sua vizinha estava infetada e estava mesmo ali, à sua frente.
-Não! Percebeste tudo mal! Já que estamos
aqui os dois, não há problema nenhum em conversarmos um bocadinho, certo?
Daniel estava muito curioso e não conseguia parar
de se perguntar acerca de como Teresa apanhara o vírus.
Nas horas seguintes, Daniel e Teresa falaram
de tudo e de nada. Quando deram por eles já era tarde e já os seus pais os
chamavam.
-Obrigada por me ouvires, Daniel. Eu passo
por muita pressão, todos os dias. As pessoas querem que eu seja alguém que não
sou e poder desabafar contigo faz-me sentir eu mesma.
Daniel corou.
-Também foi muito bom
falar contigo.
- A mãe ficou infetada? Mas ela já está bem,
certo?
-Claro que sim! Mas,
ouve o resto de história.
Um dia, Daniel encontrou Teresa num estado
lastimável que desabafou, entre soluços, que teria de ser internada. Daniel
ficou destroçado: agora que tinha criado laços com a sua amiga, seriam
separados. E se Teresa não voltasse?
Nas semanas que se seguiram, Daniel sentia-se
cada vez mais preocupado. Não tinha notícias da amiga desde que esta saíra de
casa e não via a luz ao fundo do túnel.
Numa
manhã, Daniel dormia quando ouviu Teresa chamá-lo com uma grande euforia. Desceu
as escadas, ainda de pijama, e correu porta fora.
-Daniel, estou curada!- apesar da máscara,
Daniel conseguia perceber que Teresa sorria.- Apanhei um grande susto! Este
vírus não escolhe idades. Vou passar a ter muito mais cuidado e seguir o teu
exemplo. Aprendi muito contigo.
-Eu também aprendi muito contigo, Teresa.
Percebi que tenho de me valorizar mais e deixar de sentir insegurança.
-Tu e a mãe têm uma relação muito bonita. -
disse Filipe.
-Agora está na hora da cama. Amanhã temos um longo
dia para caçar dragões.
-Dragões?- Teresa apareceu, curiosa, à porta
do quarto dos dois irmãos.- Quem é que vai caçar dragões?
-O Filipe. Ele não sabe que os dragões só
existem nos contos de fadas. Quando eu for grande, quero ser médica para curar
pessoas como a mamã.
Teresa e Daniel deram um beijinho de boas
noites aos filhos e saíram do quarto.
-Tu contaste-lhes a nossa história?-
perguntou Teresa, divertida.
-Achei que estava na altura.- Daniel sorriu.
-Pode ser que assim aprendam a proteger-se a
si e aos outros.
Ana Silva, 11ºAno
Diogo Gil, 11ºAno
Maria Inês Santos, 11ºAno
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