Carta de despedida...

 

                                                      Despedida do Secundário


Quando penso nos meus anos de secundário, aqueles que são considerados os melhores anos da nossa vida, aqueles em que as hormonas da adolescência servem de desculpa perfeitamente aceitável para todas as asneiras que fazemos, só associo a pandemia.

Podia mentir, começar isto dizendo maravilhosas mentiras, dizendo que o secundário foi, de facto, a melhor altura até agora, mas tivemos o azar do destino de ser colocados numa situação única, que da forma mais despreparada possível, vivemos sempre com a esperança de que, um dia, “Vai
ficar tudo bem”.

Lembro-me de, nas férias de verão antes do décimo ano, estar com tanto medo da mudança, da escola nova, da pressão para um dia, entrar na faculdade e de escolher que profissão irei ter para o resto da minha vida, que ao mesmo tempo que fazia destes 3 anos um bicho de sete-cabeças, os via como a janela de oportunidade que eu tanto precisava.

Idealizadas tantas imagens perfeitas, calhou-nos uma realidade um pouco imperfeita. As festas foram substituídas por confinamentos, as visitas de estudo por aulas online, as bocas tapadas com máscaras em vez de as taparmos com as mãos, já que riamos tanto durante as aulas que tínhamos de ter cuidado para não sermos chamados à atenção. Trocaram-se abraços por distâncias de segurança, trabalhos de grupo por testes, afinal, “devemos evitar ajuntamentos”, óculos de sol nas mochilas para rápidas idas à praia depois das aulas, tendo nós tanta sorte por termos uma escola perto da praia, por óculos
embaciados devido às máscaras, o que nos fazia olhar para o quadro com muito esforço, já sem conseguir ver nada. Janelas abertas em pleno inverno para nos resguardarmos das partículas de Covid no ar, quando acabávamos de mantas para nos resguardarmos de constipações.

E no fundo, resumindo tudo isto, aquilo que tanto aclamam como sendo a última chance de não sermos considerados adultos foi trocado por jovens cansados. Exaustos desta rotina, em que nos foram tiradas as partes de descontração e tempo livre para sobrecarregar aquelas que alunos ditos
“normais” fugiriam a sete pés. Mas esta rotina, cujas partes más já realcei, trará também saudades.

Ninguém estava com esperança que esta fase durasse para sempre, mas quando entrámos na reta final, tornou-se cada vez mais evidente que um dia terminaria. Por mais cansada que esteja, vejo cada dia como mais uma das poucas oportunidades que temos para criar memórias todos juntos. Tento, a todo o esforço, relembrar-me daqueles seis meses de secundário quando a vida ainda era normal, e dizer algo simpático, fazer alguém rir, aproveitar cada tempo livre para conviver fora da escola, depois que as videochamadas fizeram com que vivêssemos os dias em contacto (quase) direto.

Acho que é quase geral quando digo que os bons dias animados assim que chegamos, as idas ao bar à pressa no intervalo, as subidas das escadas para chegarmos às aulas quase sem ar, a praia à hora de almoço de maio até outubro, as piadas internas que partilhámos enquanto turma e até mesmo a contagem das 100 gotas de água nas primeiras aulas de Química vão deixar saudades. Até porque foi neste ambiente que nos sentimos acolhidos. 

Partilhar, por 3 anos, todas as emoções, boas ou más, desde motivos de alegria a nervos pelos testes, faz com que nos apeguemos àqueles que nos rodeiam. De certa forma, era a única coisa da qual tínhamos a certeza: de que haveria alguém que estava a sentir o mesmo que nós. E isso dava-nos força para continuar. Mas a partir de agora, seremos cada um por si, levando cada uma dessas pessoas no coração, não esquecendo de todas as vezes que elas me fizeram feliz. Mas não são apenas as pessoas que fazem a diferença e, por isso, dirijo-me a ti, querida escola Alfredo da Silva, que serviste de palco para os meus dias de estudante de secundário. Cativaste-me e ainda mal nos conhecíamos, não tinha chegado sequer a ponderar sobre esta decisão e já sabia que era aqui que ia acabar. Tens as tuas particularidades, só quem convive contigo diariamente sabe lidar com elas, mas há tantos aspetos em ti que me agradam. 

O ambiente que se vive de entreajuda, as pessoas que te enchem os corredores todos os dias, tornam-te, sem sombra de dúvida, num local agradável de se estar. Foste o motivo para tantas coisas boas terem acontecido nas vidas de todos nós, já que, como dizem, a escola é muito mais do que apenas as aulas, e eu não podia estar mais de acordo.
Não vou mentir, o secundário marcou-me, afinal marca-nos sempre a todos, seja pelos melhores ou piores motivos. Foram anos de muito crescimento, contactando com realidades que nos fizeram sair da nossa zona de conforto e conhecendo pessoas de quem nos lembraremos para sempre.

Professores que demonstram o quanto gostam do que fazem, inspirando-nos a que, no futuro, encontremos algo de que gostemos tanto de fazer quanto eles, que não nos deixaram desistir à primeira adversidade. Colegas que se tornaram amigos e amigos que certamente daqui a uns anos continuaremos a considerar família.
Surpreendentemente, embora não se tenha tornado na realidade que eu tanto idealizei, vai deixar saudades. Saudade, uma palavra impossível de traduzir, de explicar o significado. Simboliza um sentimento tão único, um sentimento agridoce, que nos faz ficar tristes por alguém que nos deixa tão felizes. 
Saudade é isto tudo, mas é muito mais. E no fundo, também o foi o secundário.

Sofia Rita, 12º B

Professora Regina Rico


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